domingo, 10 de maio de 2009

Carta ao filho que não veio.

Filho,

 

Não imaginas quantas vezes eu quis te escrever, mas sempre me faltava forças, coragem, palavras... Logo eu que sempre tive tanto a falar! Quando eu soube que virias, fui pega de surpresa, eu não te esperava teu pai tão pouco. Depois que me acostumei com a idéia de tua chegada, partiste sem me dar chance de gozar os prazeres de ser e saber-me mãe. Fiquei pensando o que teria para te falar, mesmo sem ainda saber, vou me arriscar. Espero que entendas.

Antes de mais nada, quero te pedir perdão. Perdão por eu não ter conseguido ter força para te gerar até o fim. E saiba meu filho, nunca passou pela minha cabeça te perder, mesmo que eu ficasse sozinha. Foste gerado com muito amor, mas em uma relação tumultuada e cheia de agravantes.

Depois que eu soube que te esperava, fiz inúmeras contas. Quando acontecera tua concepção, quando chegarias, como seria a reação do teu pai, como seria teu rosto, se eu seria uma boa mãe, como seria o impacto da notícia sobre nossas famílias... tantas dúvidas, tantas perguntas. Nascerias em pleno outono, como eu. Terias nascido no mês de maio. Um mês lindo! Tua chegada causaria surpresa, choros, comemorações, espantos... Chegarias num momento difícil para mim e teu pai, estávamos passando por alguns problemas causados por terceiros. Pessoas que não permitiriam, pelo menos por um tempo, que nossa família (eu, você e teu pai) tivesse sossego. Mas seria muito amado.

Nascerias filho de uma educadora teimosa, geniosa, tímida, manhosa, batalhadora com um saxofonista talentoso, paciente, calmo, esforçado, batalhador... Teu pai ficaria louco com tua chegada! Sempre foi desejo dele ter um filho e se puxasse ao talento dele, nossa, seria o sétimo céu. Ele tem um sorriso lindo e um olhar que conquistou mainha de longe. Terias por parte de pai, um tio e avós. Do meu lado terias duas tias, um primo e avós. Balançarias nossas estruturas. Mas seria amado e é isso o que importa!

Naquele ano, em que te descobri aconchegado em mim, os sentimentos estavam sendo levado a extremos e foram esses extremos que me fizeram te perder. Essa é uma tristeza que trago dentro de mim. As vezes, quando me pego sozinha, choro e penso em como teria sido, em como seria se estivesses aqui. Talvez eu e teu pai estivéssemos juntos ainda ou não. Nunca usaria você para tê-lo comigo, de certo que, independente de nossa relação, ele seria teu pai e um ótimo pai. Mas de certo eu não estaria, nunca mais, sozinha. Estaríamos agora celebrando teu primeiro ano e eu o meu primeiro dia das mães.

Eu te incentivaria a estudar música com a mesma dedicação do teu pai e a estudar línguas como eu. Te levaria para passear, te contaria estórias, te ensinaria sobre as coisas do mundo...TE AMARIA! Amor esse que te dedico até hoje.

Você partiu sem me dar a chance de conhecer teu rosto, sem saber como seria teu sorriso, se teria medo de formigas como eu, se torceria para o Santa Cruz como teu pai, se gostaria de frutas e verduras, se furaria a orelha, se teria tatuagens, se daria trabalho na escola, se seria esportista... Não tive a chance de saber o que é passar uma noite em claro, o que é sentir o coração apertar ao te deixar para o primeiro dia de aula, me emocionar com a primeira palavra balbuciada, com o primeiro passo dado, participar de festinhas de escola, o primeiro dente, o primeiro gesso, o momento em que largaria as fraldas, chupeta... o primeiro mamar.

Eu poderia filho, passar a vida escrevendo só para ti, mas o grande Pai achou que não era o momento de vires a este mundão e espero que estejas aí, ao lado Dele. Talvez tenha sido melhor, pra que não sofresses com a loucura daqueles que me separaram de teu pai. Mas agora não importam os porquês, já aconteceu e embora não tenhamos passado muito tempo juntos, embora não  tenhamos tido o tempo de convívio, até hoje sinto tua falta, tua perda... Pode ser que um dia as respostas me cheguem e eu entenda. Uma coisa é certa, quando descobri você é que tive a certeza do que é o amor.


Srta. Marinho


"Quando uma mulher perde o marido, ela fica viúva. Quando uma mulher perde os pais, ela fica orfã. Mas quando uma mulher perde um filho não há nome para se dar a essa dor."

Pe. Fábio de Melo

2 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.