sábado, 25 de abril de 2009

De repente 30... (ou 'Eu apenas queria que você soubesse que essa menina hoje é uma mulher...')




No dia 25 de abril de 1979, lá em Portugal, era lançado o documentário de Rocha de Sousa, RUA DO PÓS - 25 de ABRIL, que tratava da 'Revolução dos Cravos’. No Vaticano, o Papa João Paulo II publicava em AUDIÊNCIA GERAL um texto sobre o Nascimento de Roma. Aqui no Brasil, o país seguia sob domínio militar, que já não tinha tanta força no governo de Figueiredo. Logo ali na Bahia, era fundado um dos grupos de maior influência percussiva no mundo, o OLODUM. Em Recife, no dia 25 de abril de 1979, às 05:17h da manhã, eu nascia.

Nasci na maternidade São Marcos, no bairro da Ilha do Leite. Quem escolheu meu nome, foi ‘vó’ Cininha, amiga da família. Segundo todas as histórias que me contam, ela lia a passagem bíblica em que Jesus ao curar uma menina lhe diz: ‘Talita cume’ (‘Menina levante-se’). Daí minha mãe acrescentou o H, juntou com Maria e lá estava eu. Thalita Maria, nascida num dia de mormaço e com uma chuvinha fina caindo sobre a cidade. Nasci sob o signo de touro com ascendente em touro. E muito abençoada por Deus!

Nossa, esperei tanto chegar nessa data... Quando era mais nova, ficava imaginando como seria quando eu chegasse aos 30. Imaginava que aos 30 anos eu já teria ganho duas medalhas olímpicas, lembranças do tempo de atleta, que teria terminado a faculdade, estaria bem casada e com dois filhos em idade pré-escolar. Bem...não foi exatamente assim, mas não me arrependo do caminho que fiz até aqui. Na verdade, fazer 30 anos não é para qualquer um. Fazer 30 anos é, de repente, descobrir-se no tempo. Antes, vive-se no espaço. Viver no espaço é mais fácil e deslizante. É mais corporal e objetivo. Pode-se patinar e esquiar amplamente.

Não sei porque me sinto tão realizada por estar entrando nessa nova fase. Mas é fato que estou como um texto que li outro dia de um autor chamado Affonso Romano, que dizia assim: “Estou proclamando que cheguei aos 30.” Como ele diz em seu texto, chegar aos 30 é diferente do que chegar aos 15, ou 18, ou 21. É como se chegássemos ao primeiro grande patamar de onde se pode mais agudamente descortinar…

Fazer 40 ou 50 é um outro rito e quem sabe um dia chegarei lá, mas fazer 30 anos é O RITO. É a iniciação, um ato realmente inaugural. E eu estou feliz! Tudo bem que ainda não realizei tudo que desejo, mas há realizações ao longo da vida que me fazem sentir plena.

Fazer 30 anos não é coisa lá muito fácil, é uma outra sensação. Como quando um mineiro vê pela primeira vez o mar. Dá pra vocês imaginarem como é?

Mas fazer 30 anos é como sair do espaço e penetrar no tempo. E penetrar no tempo com grande responsabilidade. É descobrir outra dimensão além dos dedos da mão. É como se algo mais denso se tivesse criado sob a couraça da casca. Algo, no entanto, mais tênue que uma membrana. Algo como um centro, às vezes móvel, é verdade, mas um centro de dor colorido. Algo mais que uma nebulosa, algo assim pulsante que se entreabrisse em sementes.

Aos 30 já se aprendeu os limites da ilha, já se sabe de onde sopram os tufões e, como o náufrago que se salva, é hora de se autocartografar. Já se sabe que o tempo em nós destila, que no tempo nos deslocamos, que no tempo a gente se dilui e se dilema. Fazer 30 anos é como uma pedra que já não precisa exibir preciosidade, porque já não cabe em preços. É como a ave que canta, não para se denunciar, senão para amanhecer.

Fazer 30 anos é passar da reta à curva. Fazer 30 anos é passar da quantidade à qualidade. Fazer 30 anos é passar do espaço ao tempo. É quando se operam maravilhas como a um cego em Jericó.

Fazer 30 anos é mais do que chegar ao primeiro grande patamar. É mais que poder olhar pra trás. Chegar aos 30 é hora de se abismar. Por isto é necessário ter asas, e sobre o abismo voar.

E hoje, completando 30 anos, fico pensando naqueles que ficaram para trás e que foram fundamentais para a formação de meu caráter, amigos, parentes, amores e até aqueles que se satisfizeram com minhas lágrimas.

Todos eles estão sempre comigo, a cada passo que dou lembro de seus ensinamentos e de seus desafios, e eu poderia aqui enumerar vários dessas pessoas que passaram na minha vida. Sempre contando com a simplicidade dos meus pais e minhas irmãs, meu sobrinho, meus amigos, que hoje não são em quantidade e sim em qualidade... mas esses estão sempre comigo. Por isso hoje eu deixo aqui uma saudade daqueles que passaram atravessando minha trilha e, uns já se foram para outros campos, outros caminhos e talvez uma dia ainda os veja para uma nova batalha. Todos eles me mostraram que não podemos ter medo de amar, às vezes dói, mas faz parte da trilha existir pedras.

E aos 30 anos tudo que posso dizer é que aquela menina tímida e introspectiva, hoje é uma mulher. Uma mulher feliz!


Srta. 'aos 30' Marinho


“Que Baco e Afrodite encham seus corações de coragem para que nunca desperdice o amor que há dentro de cada um, o medo de sofrer não pode vencer o desejo de ser feliz