"Das cinzas fui batizado, CORDEL DO FOGO ENCANTADO"

Na madrugada da terça-feira de carnaval para quarta-feira de cinzas quando o ‘encantado’ Lirinha subiu ao palco com seu Cordel estradeiro, entoando ‘PEDRINHA MIUDINHA...’ a atmosfera do RECBEAT – Pólo Mangue do carnaval se transformou. Lirinha apareceu mais encantado e emocionado que de costume. Exatamente naquela madrugada o Cordel do Fogo Encantado completava 10 anos de existência. E o vocalista relembrava disso a todo instante, sempre com a voz embargada.
Lembro-me quando o Cordel surgiu ‘perdido’ pela Rua da Moeda com um vocalista performático, seu pandeiro eletrizante e alfaias ensurdecedoras. Era uma mistura de literatura de cordel, cantos de terreiros e muita cultura, e história, pernambucana.
A data acabou colaborando para que esse show tenha sido um dos melhores já feito pelo Cordel, com direito a bis e declaração entusiasmada de Lirinha anunciando que não queria sair do palco. O público pra variar estava empolgado e em grande coro cantou todas as canções. Não deixou de ter o velho chamado para que a chuva viesse, e ela veio, tímida e discreta, sabia que aquele não era o dia dela... E no melhor estilo Cordel, teve até frevo da década de 30 dos irmãos Valença.
Já perdi as contas de quantos shows de Cordel eu assisti, mas esse sem dúvida foi um dos mais marcantes e emocionantes. Melhor ainda saber que, como fã, eu faço parte da história dessa banda e me delicio com as músicas, levadas, chamados... E sim, sinto-me das cinzas, também, batizada.

Srta. Encantada Marinho

"...e no melhor da festa chega a quarta-feira..."

Quando a manhã do último sábado alvoreceu a cidade tinha um ar diferente do rotineiro. Tudo parecia mais alegre, mais colorido, mais ensolarado... O ‘dono’ da cidade estava em sua pose imponente no meio da ponte a recepcionar as pessoas que chegavam dos mais diversos cantos da cidade e, porque não, do mundo. Era então sábado de carnaval. Há tempos não se via uma festa tão bonita e contagiante. Todo mundo no mesmo clima.
O carnaval de Pernambuco, me desculpem desde já os cariocas, paulistas, baianos, está cada vez melhor. Não precisamos de cordão de isolamentos ou galerias em sambódromos. Nosso carnaval é brilhantemente democrático, estejamos fantasiados ou não. Basta um pouco de animação e uma batucada, pronto a festa está feita.
Sinto muito para aqueles que acham que frevo, maracatu, afoxé...’estragam’ nosso carnaval, pois é justamente nossa história, nossa cultura que abrilhanta a festa. Ver gente de todas as cidades entoando canções como: ‘EU FUI NA PRAIA DO JANGA PRA VER A CIRANDA...’ ou ‘MADEIRA DO ROSARINHO, VEM A CIDADE...’ ou ‘EU VOU ESSE ANO PRA LUA, NÃO É PRIVILÉGIO...’, sem esquecer do ‘EI PESSOAL, VEM MOÇADA, CARNAVAL COMEÇA NO GALO DA MADRUGADA...’. E não importa quando elas foram compostas. Qual foi mesmo o hit do carnaval da Bahia ano passado? Bem, isso pouco importa. O que importa é que aqui temos cultura demais e acho desnecessário, quando se tem a SPOKFREVO ORQUESTRA, ORQUESTRA POPULAR DA BOMBA DO HEMETÉRIO, SILVÉRIO PESSOA, MAESTRO DUDA, NENA QUEIROGA, ALMIR ROUCHE, CORAL EDGAR MORAIS, MARACATU ESTRELA BRILHANTE, BLOCO DA SAUDADE, ORQUESTRA MULTICULTURAL, ANTÔNIO CARLOS NÓBREGA...entre outros que encheriam umas 20 páginas, trazer pra cá nomes como Banda Calypso e Caetano Veloso. Sinto apenas pela falta que fizeram Enéas Freire e Mestre Salu, que a todo momento eram lembrados, eles ajudaram a construir essa cultura que agora devemos honrar e dar continuidade.
Agora a quarta-feira, sempre ingrata chegou, é hora de esperar mais um ano pra folia recomeçar oficialmente. Até lá vamos ensaiando todos os nossos ritmos e batuques. Que vejamos mais dias, em 2009, amanhecer ao som do frevo, de alfaias ensurdecedoras e seus baques variados.

Srta. Marinho