domingo, 25 de dezembro de 2005


Bem, esse não foi um Natal fácil! Eu vinha cheias de esperanças de que seria diferente. Mas, a minha esperança deixou um bilhetinho dizendo que estava cansada e que por recomendações médicas ia tirar férias em alguma ilha do pacifíco. Os meteorologistas já garantiram que não há perigo de tsunamis para esse ano. Ainda assim eu vinha bem e tranqüila.
Tava sentada na varanda de casa, esperando o meu 'Espiríto de Natal', quando o carteiro chegou com um telegrama endereçado à mim. Qual não foi a minha surpresa! Era um telegrama do Espiríto de Natal, dele mesmo, avisando que estava atrasado e que se até o São João ele não chegasse eu desistisse e fosse pular uma fogueira ou dançar quadrilha.
Só me restava o Papai Noel. UFA! Fiquei feliz e até esbocei um sorriso. Mas aí, lembrei que minha casa não tem chaminé. Isso era um problema! Como ele traria meu presente se não tivesse por onde entrar? Daí eu lembrei da música que diz: "BOTEI MEU SAPATINHO, NA JANELA DO QUINTAL..." - Prontamente, escolhi um sapato limpo. É porque sapato sujo ninguém merece, nem Papai Noel.
Logo percebi que as coisas não iam bem! Porquê? Bem, um passarinho FDP fez cocô no meu sapato. Isso mesmo, pode rir. Ele simplesmente se achou no direito de cagar no meu sapato! O que eu fiz? Troquei o sapato, lógico! Pensei comigo: AGORA VAI!
Na manhã de Natal acordei feliz. Senti a manhã com um clima agradável. Mas foi só abrir os olhos para perceber que eu havia dormido com a janela aberta. Corri então para o sapato. Foi surpreendente, tinha algo no sapato. Meu coroção bateu acelerado. Não podia acreditar! Era um envelope, isso mesmo um envelope. Tá tudo bem! Vocês podem pensar: GRANDE COISA UM ENVELOPE! - Certo, grande coisa, mas para mim tinha muito significado. Abri o envelope e tirei o bilhete que havia dentro. Estava escrito assim:
AH... DÁ UM TEMPO! SAPATINHO NA JANELA? O QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO? UM PRESENTE? ACORDA PRA VIDA GAROTA! DEIXA DE SER OTÁRIA E CRESCE.
Ass: PAPAI NOEL
Isso aí! Eu também fiquei chocada. O mundo é cruel e ninguém me avisou! Feliz Natal!
Thalita Marinho


NEM EM PAPAI NOEL PODEMOS CONFIAR MAIS!

domingo, 18 de dezembro de 2005

Por mais que eu tente juntar os caquinhos do meu coração, há sempre um vento forte que sopra, em todas as direções, os pedacinhos dele para longe.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

HAVIA UM TEMPO...
Havia um tempo em que eu não sentia dor.
Sentia dor de barriga, dor de queda, de braço
quebrado e tombo de bicicleta,
mas dor no peito, essa que dói uma madrugada inteira,
bem lá dentro da alma, eu não sentia.
A gente saía na rua à noite e pendurava estrelas no céu.
Ouvia o violão suave e a voz entoada cantando baixinho, letras rimadas.
Antigas canções, refrões que vinha fácil, agudos engasgados.
Todo mundo cantava!
Lá do jardim de casa eu via a noite chegar.
As flores dormindo no velho canteiro, cigarras cantando,
vagalumes, grilos, bichos em volta da luz...
E a gente ria como num palco de um circo.
Tudo colorido e engraçado como um palhaço sorridente
e o sujeito maluco suspenso no ar.
Havia um tempo em que tudo era festa!
Almoçar era festa, cantar era festa, sentir cócegas era festa,
brincar na lama, rolar na grama, tomar banho de chuva e escorregar no sabão.
E se falavam na língua do "P" quando a língua materna cansava!
Vovô cochilava na rede de boca aberta, cabeça estendida
e o cachorro fazia buracos no gramado.
Tudo isso também era festa!
De manhã a gente bebia o leite com nescau correndo
e saía pra escola limpando a boca com a mão, amarrando o tênis...
parecia que o tempo não passava.
O tempo não tinha pressa pra gente. Era o nosso tempo!
A gente adorava medir nosso tamanho
e o que eu queria ser quando crescer parecia coisa de muito tempo à frente ainda.
Havia um tempo em que a rua ficava vermelha,
era um tapete de flores caídas das árvores das calçadas.
Havia um tempo em que a gente sentia tolas saudades!
Como de bola de gude perdida no mato,
ou do homem que vendia doce japonês na porta.
Domingo era dia de ir pra casa da avó.
Os primos todos reunidos,
a tia falando que não podia comer doces antes do almoço,
os tios falando de futebol e de carros...
De não entender nada do que se falava.
E ir embora pra casa com um sorriso cansado, mas feliz!
Dia de semana, segunda-feira, dia de ir pra escola.
Redação sobre o fim de semana, tarefa de matemática, aulas de balé e de educação física.
Corria no recreio, gritava e suava suor com cheiro de vento,
de flor, de capim, de chuva fina.
Havia um tempo em que não se falavam em amor,
em tédio, em stress ou decepção.
A gente voltava pra casa, comia, brincava, fazia o dever e dormia.
O tempo não passava. A gente não crescia!
Até que um dia minha mãe me falou que a bicicleta perdeu o freio,
que a corda do violão arrebentou.
Disse que vovô morreu, o circo foi embora,
que não haveria mais lama
E que no lugar da grama do jardim ela faria uma calçada.
Havia um tempo eu que eu subia num pé de jambo
E lá eu fazia meu parque de diversões.
Fazia versos, vencia batalhas iamginárias,
desenhava corações...
Era quem eu queria ser!
Um dia cortaram meu pé de jambo.
Eu já não pude chorar de saudade.
Minha fantasia, minha ilusão,
as flores nas calçadas, os vagalumes e as cigarras cantando não existiam mais.
E eu cresci!
Me vi obrigada a crescer, mais do que imaginava.
E mesmo que eu sinta saudade, de acordar aos domingos pra ir à casa da avó,
de ouvir a voz de todo mundo cantando lá fora,
não há tempo!
E o tempo me encheu de dor e com a dor, alegria e amor.
Esses sentimentos que inevitavelmente se instalam na alma,
que me trazem o riso, o choro, a dança... o grito e a esperança.
Só mesmo a lembrança dos tempos guardados pra me fazer suportar.
Porque nem só do trabalho se vive.
O tempo passa e não pára.
Melhor tentar fazer da vida motivo de poesia.

Thalita Marinho

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005