sábado, 19 de maio de 2007

"O Rio de Janeiro continua lindo..." (?)

Os cariocas têm um tique, quase nervoso, quase involuntário... Sempre que, por pressão da evidência e dos fatos, mencionam a violência, falência, ruína do Rio de Janeiro, acrescentam um: "Ah...mas a cidade continua linda!".
Como se por efeito da mistura desses dois domínios, o do urbano (que na realidade é o da cultura) com o do natural, o segundo saldasse o débito, a falência, do primeiro. Não há, não há vista da Urca, de Santa Teresa, do Corcovado, das calçadas de Copacabana, da garota de Ipanema que pare as balas que correm a cidade (maravilhosa?).
A consolação, se existe, é torta. E fica então, no ar dos cariocas, temos ou não temos a guerra civil mais bonita do mundo?
Thalita Marinho

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Eu tenho...
Tenho sonhos. Ofereço-os, me ofereço. Rezo por doçura e você não me vê. Tenho palavras, porque as palavras, tão pouco usadas, ficam paradas um pouco na garganta ainda. Tenho que falar. Só que você não entende a minha língua porque ela não é feita de palavras, mas de gestos, olhares, pulsações. Tenho sorrisos. Risadas fora de hora e na lembrança do seu sorriso. Tenho o que dizer. E direi coisas de uma ternura tão simples. Tenho o meu silêncio. Uma prece quase sagrada porque no meu silêncio vejo você em mim. Tenho o meu cansaço. Porque talvez eu pressentisse o seu cansaço no tempo em que me perdi recolhendo os meus pedaços. Tenho um arrependimento das coisas erradas, mas o que fiz certo me emociona muito mais.
Thalita Marinho
CANSAÇO...


O que há em mim é, sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A sutileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos

quinta-feira, 17 de maio de 2007

DELETANDO...


O meu computador teve que ser formatado. Perdi tudo! Não. Perdi muita coisa! Não. Perdi algumas coisas. Não: não perdi nada! O que era importante já tinha guardado. Todo o resto precisava realmente dessa “limpeza”, mesmo que forçada.
Porque nós temos o prazer em acumular lixo, tralha...? Sim, é muita coisa misturada: lembranças, lixo, brincadeiras, recordações, trabalho... Mas porque nós temos esta estranha necessidade de tentar guardar tudo?
Às vezes brinco, digo que a minha memória é minha amiga: guarda apenas os bons momentos. Porque não faço o mesmo com as coisas materiais? Será que podemos considerar estes arquivos como algo físico?
Tenho alguma dificuldade em separar-me das coisas, das pessoas, dos lugares, de tudo o que um dia me prendeu, me fascinou, me alegrou. Mesmo que não me prendam, fascinem ou alegrem agora. E de um momento para o outro acontece isto: formato o computador. Perco tudo! Será que perco mesmo?

Thalita Marinho

quarta-feira, 16 de maio de 2007


Me peguei aqui agora, no meio do trabalho e cheia de coisas por fazer, pensando em algo fora de propósito. Mas é algo lógico... Estando lá no céu, como vamos saber quem é Deus? Devemos ficar de olho no cara que disser: “Até amanhã se EU quiser.” Ou vamos ter que prestar atenção, também, quando dissermos “Graças a Deus” e alguém responder: “Obrigado”?
Se alguém souber a resposta me avise, por favor!
Thalita Marinho
HORA DE PICO...


Uma multidão que se arrasta velozmente, empurrões e pisadelas que se sucedem, numa monotonia incontrolável, dia após dia, como se tratasse de um ritual. Entrar no metro, em hora de pico, pode ser uma autêntica aventura. Após algum esforço, consigo, por fim, entrar. Seguro-me na barra central e o metro enche rapidamente, sensação obtida: sardinhas enlatadas!
Os olhares retraem-se como se constrangidos, como se um medo estranho, nos apoderasse, fixamos o olhar num único ponto: o chão, a parede, a janela para a cidade que ‘corre’ lá fora…, tudo serve para fugir ao olhar alheio. Alguns colegas de trabalho que conversam entre si, quebrando o silêncio e uma voz de fundo avisa:

- Estação Afogados, embarque e desembarque pela porta...!

Ai não, sensação: algo pior que estar dentro de uma lata de sardinhas! E ainda estamos no começo da viagem.
Bem, prosseguindo a viagem, pela minha mente ocorre o seguinte: ‘O que será que se passa pela cabeça de todas estas pessoas, aqui metidas como que em latas de sardinhas, e que por um breve instante repartem o mesmo espaço, o mesmo momento das suas vidas, durante esta viagem? Será:

“O que irei fazer para jantar?”
“Os sapatos daquela mulher são lindos, onde será que os comprou?”
“Aquela garota ali é muito boa!”
“Eita...aquele carinha está olhando para mim, hum…interessante!”
“Ai Cristo...será que nunca mais chego em casa?”
“Esta merda de viagem parece eterna.”
“Só espero que na próxima estação, não entre mais ninguém.”

Quais serão os seus pensamentos? A verdade é que deve ser curioso saber o que lhes passa pela cabeça, neste momento tão incomodo. Ai meu Deus, mais uma estação! E mais uma vez esta voz irritante:

- Estação Ipiranga, embarque e desembarque...!

E mais um tanto de pessoas que se espremem…AAAAAAAAAAAAH! Oxi…tem jogo hoje? Acabou de entrar um grupo todo uniformizado com camisa, rádio, bandeira, boné (boné a esta hora?) Possivelmente terá jogo…Ah! É verdade hoje é o jogo do glorioso com o Figueirense de Florianópolis, (vamos ver como nos saímos, depois da última exibição, que não foi lá muito boa…). Eu com este pensamento e um grupo de três ou quatro garotos discutindo isso mesmo, o último jogo com o Figueirense.
- Estação Werneck, embarque e...!

Já não era sem tempo...Ufa! Finalmente um assento livre... Como é bom sentar, depois de um dia como este. E prossegue a viagem! Agora bem mais calma, apenas se ouve um ruído de fundo, de alguns passageiros a discutirem entre si, enquanto a maioria continua com um olhar vago para o vazio. Solto um longo suspiro, por fim, que alívio, aquela voz irritante e que agora me parece melodiosa, avisa:

- Estação…

Fim de trajeto! Saio e comigo algumas dezenas de pessoas, entre elas os torcedores do glorioso, o meu olhar transparece uma certa alegria, ou um certo alivio talvez… E cada um segue a sua vida, pra onde? Não sei, mas o mais importante neste momento é: acabou a viagem infernal da hora de pico e chego, enfim, ao meu destino. E amanhã terá mais, ou talvez não. Quem sabe não faço um outro caminho.
Thalita Marinho

P.S.: Texto escrito inicialmente em 09 de maio de 2007.


terça-feira, 15 de maio de 2007

TEIAS...



Depois de vários protestos por eu estar sem postar a um pouco mais de 15 dias, então vim aqui espanar as teias de aranha! A ausência não é ocasionada por falta de acontecimentos ou de inspiração, mas sim por excesso de acontecimentos e inspiração, mas muita falta de tempo.
É tanta vida, tanta coisa, que me embaralhei e nem consigo organizar as idéias, a vida, o coração, o pensamento, os acontecimentos, a inspiração... Então, resolvi vir pra cá e postar.

Thalita Marinho