terça-feira, 31 de outubro de 2006


CONSTRUÇÕES DE PAPEL
Fiz um avião de papel
e ele voou.
Fiz um barco de papel
e ele navegou.
Fiz um coração de papel
e ele não bateu...

Thalita Marinho

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

COMO NOSSOS PAIS
"Não quero lhe falar, meu grande amor
Das coisas que aprendi nos discos.
Quero lhe contar como eu vivi,
E tudo que aconteceu comigo..."


Época de eleição na minha infância era uma festa. Ai, que divertido era ver e decorar as músicas dos candidatos, pegar aquele monte de papéis com fotos e números para brincar de escolinha ou escritório... Como era legal ver meus pais, tios e avós discutindo sobre o passado e as metas de cada candidato, tão inflamados e cheios de razão, enquanto tentava entender o que eles diziam. Como era bacana entrar com meus pais na cabine de votação e participar, com eles, desse ato interessante e incompreensível aos olhos de uma criança. Meu pai, tão bonzinho, deixava que eu fizesse o "X" na cédula - no lugar que ele indicava, claro - e eu saía do colégio me sentindo importante. Provavelmente não sabia por quê, mas me sentia mais que importante; assim como minha mãe e meu pai, que tinham acabado de sair de um período de nulidade de direitos políticos e ali podiam votar em quem quisessem, do jeito que quisessem.

"Viver é melhor que sonhar.
Eu sei, o amor é uma coisa boa.
Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida
De qualquer pessoa."

Passou a ser mais sério e prazeroso participar das eleições na época da minha adolescência. Não demorou para que eu abraçasse a causa de um partido que me parecia ser mais do que justa. Participei das campanhas, entrei em grupos de discussão, ia ao comitê e comícios, ajudava a bolar estratégias de campanha, fazia boca de urna, comecei a ler os jornais com atenção, conheci gente apaixonada que me ensinou boa parte do que eu sei hoje. Gastei meu latim em discussões intermináveis sobre a verdade das pessoas e do universo, sobre a necessidade da justiça social e da participação democrática. Li livros e participei de conversas que talvez só deveria ter lido e ouvido depois, mas eu adorava me sentir participativa. E esperava ansiosamente pelo dia de poder votar para coroar tudo isso, concretizando os meus sonhos. Como toda adolescente, eu acreditava que ações bem intencionadas eram mágicas.

"Por isso, cuidado, meu bem:
Há perigo na esquina.
Eles venceram,
E o sinal está fechado pra nós, que somos jovens.
Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz."

Quando fiz 16 anos, no dia seguinte fui ao cartório fazer meu título de eleitor que, eu acreditava, era também um título de cidadã, um comprovante da minha consciência e responsabilidade social. Lembro-me da primeira vez que votei. Eu estava feliz. Muito, muito, muito feliz. E desde então, dia de votar sempre foi um dia feliz. Um dia onde eu me sentia participante. Um dia de esperança. Um dia de voz. Um dia para sentir-me parte pensante e atuante de um corpo inteiro chamado sociedade. Mesmo quando tive que escolher entre o ruim e o pior em um segundo turno, eu me senti feliz em poder votar. Aquele gosto - talvez da infância, talvez da adolescência - acompanharam todos os meus dias de votação até hoje.

"Você me pergunta pela minha paixão,
Digo que estou encantada com uma nova invenção
Eu vou ficar nessa cidade, não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração"

O tempo passou, muita água correu debaixo da ponte; e não vou ficar falando aqui das minhas decepções e da minha inconformidade com a mentalidade política brasileira. Não vou ficar dando razões que todos conhecem para o meu desencanto, nem justificando ninguém. Toda essa sujeira não interessa nem para reclamar ou ficar me lamentando, mas sim parar e repensar. Apenas vou dizer que estava indiferente e, nos poucos momentos em que me envolvi, não consegui enxergar um horizonte, um bom motivo... Quase cheguei a dizer que são todos iguais, e essas bobagens que as pessoas falam todas as horas por aí. Quase repassei alguns das centenas de e-mails ignorantes que recebi ultimamente. E, até hoje de manhã, eu pensei que o próximo domingo, dia de votar, seria pela primeira vez, um dia triste. Mas mudei de idéia por causa do Belchior e da Elis.

"Já faz tempo, eu vi você na rua.
Cabelo ao vento, gente jovem reunida.
Na parede da memória
Essa lembrança é o quadro que dói mais.
Minha dor é perceber
Que apesar de termos feito tudo que fizemos,
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como os nossos pais."

Foi a Elis quem soou no rádio cantando uma música composta quando meus pais ainda nem pensavam em me trazer ao mundo. Essa canção, que me fez chorar tantas vezes, hoje molhou meus olhos de novo. A canção fala sobre o tempo e a juventude, sobre a maturidade e a impotência, sobre ilusão e decepção, sobre ganhar e perder...sobre ter esperança no novo que ainda virá. E a voz assertiva da Elis bateu em mim, pra me fazer perceber que, embora as pessoas sejam tão previsíveis e as histórias - inclusive políticas - acabem praticamente do mesmo jeito, é importante que tentemos fazer a nossa parte. É importante não desistir. É importante ter a paixão de um jovem com cabelo ao vento na rua para poder chegar a ser um velho que lembra do passado com um tom saudosista e melancólico, mas agradável. É importante acreditar até para poder desacreditar. Há coisas que devem ser feitas. E é nosso papel fazê-las, sem fugir, sem reclamar... Apenas fazer.

"Nossos ídolos ainda são os mesmos
E as aparências não enganam, não.
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém..."

Sinto-me feliz por poder votar quando vejo, ouço e leio notícias de lugares onde a democracia não existe - sequer como farsa. Sinto-me feliz por ter o direito intransferível de votar, mesmo obrigada, quando milhares de pessoas no mundo sequer sonham em expor o que pensam e sentem através do voto. Sinto-me feliz por não ser obrigada a expor o meu voto publicamente, a não ser que eu queira, e por isso não ser vítima de abusos e coações. Sinto-me feliz por saber ler, por ter o mínimo de formação crítica, por ter aprendido um pouco sobre a teoria e a prática da política para garantir um mínimo de consciência com o meu voto. Sinto-me feliz por votar já não tendo tantas ilusões, por votar já sem heróis e sabendo que as pessoas são apenas pessoas - tão sujas e tão vulneráveis diante do poder - falíveis e humanas, mas ainda assim, pessoas. Sinto-me feliz por poder votar em respeito à luta de muita gente que brigou, morreu e fez o que pôde para que eu fosse livre para expressar minha opinião hoje, inclusive aqui, neste espaço, sem ser agredida ou desprezada por isso. Sinto-me feliz por poder votar e fazer parte da história do mundo. E, ouvindo Elis, eu pensei que a maior razão para que eu me sinta feliz em votar, é que ainda posso escolher. E quando há escolha... É porque há opção.

"Você pode até dizer que eu tô por fora,
Ou então que eu tô inventando.
Mas é você que ama o passado e que não vê,
É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem."

Uma vez ouvi que nada volta atrás, pois a evolução é inerente ao tempo. Embora a passos muito lentos, a humanidade é melhor hoje do que ontem. É melhor este ano do que no ano passado. É melhor nessa época do que em outras épocas. Não se trata de ser otimista, mas sim realista. Sarney foi melhor que Figueiredo. Collor foi melhor que Sarney. FHC foi melhor que Collor. E Lula foi melhor que FHC. Provavelmente, depois de Lula virá um outro um pouco melhor, e assim vamos caminhando, em ciclos, com altos e baixos, mas sempre para frente. O passado não volta, embora o ser humano tenha uma tendência esquisita de achar que tudo antes era melhor do que é hoje. E o futuro? Bem, o futuro é uma incógnita. Tudo pode acontecer - até um operário moralizador virar ícone de corrupção e um ex-professor, sociólogo e exilado político acreditar no neoliberalismo. A diferença é que, cada vez mais, escolhemos às claras, com os olhos bem abertos. Ainda há muita sujeira por cima do que vemos. Mas já enxergo melhor do que enxergava dez anos atrás. E que bom que é assim. É positivo.

"Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciência e juventude,
Tá em casa, guardado por Deus, contando o vil metal."

A despeito da palhaçada, das cartas marcadas, dos escândalos, das decepções e da impunidade, como diria o Caetano, se o mundo é um lixo, EU NÃO SOU. E é por isso que eu escolho com cuidado meus candidatos, o mesmo cuidado que sempre tive (e agora até mais liberta do estigma da ideologia que eu achava que era minha). E, no domingo, eu vou votar feliz. Porque ninguém vai me fazer desistir de expressar minha vontade política. Nem mesmo os políticos.
Thalita Marinho


P.S.: Ah! Leia Frei Betto, o Inagaki e escute Elis. Quem sabe assim, se você estiver desanimado, ainda consiga compartilhar comigo dessa felicidade. Feliz eleição pra você.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006


PRECISO DE ALGUÉM...


Que me olhe nos olhos quando falo.
Que ouça as minhas tristezas e neuroses com paciência.
E, ainda que não compreenda, respeite os meus sentimentos.

Preciso de alguém, que venha brigar ao meu lado sem precisar ser convocado;
alguém amigo o suficiente para dizer-me as verdades que não quero ouvir,
mesmo sabendo que posso odiá-lo por isso.
Nesse mundo de céticos, preciso de alguém que creia,
nessa coisa misteriosa, desacreditada, quase impossível: A AMIZADE.
Que teime em ser leal, simples e justo, que não vá embora se algum dia eu
perder o meu ouro e não for mais a sensação da festa.

Preciso de um amigo que receba com gratidão o meu auxílio, a minha mão estendida.
Mesmo que isto seja muito pouco para suas necessidades.
Preciso de um Amigo que também seja companheiro, nas farras e pescarias,
nas guerras e alegrias, e que no meio da tempestade, grite em coro comigo :
"NÓS AINDA VAMOS RIR MUITO DISSO TUDO " e ria muito.
Não pude escolher aqueles que me trouxeram ao mundo, mas posso escolher meu amigo.

E nessa busca empenho a minha própria alma, pois com uma amizade
verdadeira, a vida se torna mais simples, mais rica e mais bela .


(Cris Passinato)



P.S.: Esse texto circula já tem um tempo pela internet e sempre é atribuído a Charles Chaplin. Numa remexida que dei em minha pasta hoje eu o encontrei e descobri que na verdade é da autora acima. Espero que gostem, eu amo! Cheiro, Thalita.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006


Preconceitos? Não, muito obrigada!


Esta minha geração tem de tudo. Já escrevi aqui algumas coisas negativas e algumas coisas positivas...Mas hoje, porque o tempo corre e amanhã tenho que retornar aos hábitos madrugadeiros, são poucas as questões que aqui deixo. Algo que pouco entendo é essa coisa do respeito da diferença. Todos temos a postura teórica de um politicamente correto que nos foi inserido e mostrado como uma aceitação de diferença. "Temos que aceitar os outros", dizemos. Mas quem nunca se pegou comentando sobre aquela moça que sai sem dar satisfações e sempre bem resolvida? Quem não gosta de ouvir uma piada sobre "negros", "gays" e tudo o que "é teoricamente diferente" do que é "aceite como normal"? Falar mal tem esta coisa de nos sentirmos cheios de graça, e de uma certa forma deixar parecer que os outros seres são inferiores a nós. Não interessa quem seja, desde que quem fale pareça ser superior (uma ova).
Tem certa graça, gozar, principalmente quando são alvos fáceis, de difícil aceitação social. Meus caros, pois me deixem contar-lhes um segredo...O NORMAL NÃO EXISTE. Podem perguntar a cientistas, a técnicos especializados ou registrar as minhas conversas com todas as pessoas que conheço. Ninguém está livre por ter cometido em toda a sua vida atos puramente aceitáveis pela sociedade e por si próprios. Algures, um dia, na infância, na adolescência ou já na vida adulta, todos enfrentamos isso de nos aceitarmos como indivíduos independentes e únicos. Porque não nos relacionamos, conscientemente, com ladrões ou com traficantes de droga? Porque despejamos gozações diversas nas loiras, nas pessoas de raça diferente e ainda por cima em pessoas que são mais felizes e naturais e por razões que só lhes dizem respeito vivem, namoram ou têm relações com pessoas do mesmo sexo? Serão as anedotas uma escapatória para demonstrar o nosso lado mesquinho e preconceituoso? Numa sociedade onde a originalidade e criatividade deveriam ser motivadas, como se consegue espaço na vida humana para falar mal de quem quer que seja ou do que for?
Para quem nunca sentiu na pele as conseqüências da má formação e do preconceito injusto não poderá explicar o sentimento de exclusão que se sente, de não identificação com tudo o que é humano e vivo. Porquê criar mais ninhos de exclusão? e porquê confundir a diferença racial, física ou sexual com a competência, credibilidade e bom aproveitamento que um indivíduo tem? Falo disto porque tive durante estes últimos tempos discussões com pessoas da minha idade e da minha geração (e não só da minha geração, claro) que não aceitam ver em cargos sociais pessoas que parecem ter tendências homossexuais. Para mim isto é simplesmente ridículo. Cargos sociais implicam fazer algo para a sociedade, e é isso que devemos realmente nos preocupar, no mal, no bem, no tirar e no dar...ou não? Interessa assim tanto com quem uma pessoa se deita? Será melhor ou pior pessoa por isso? Fará pior ou melhor?
Deixo aqui estas questões, cá tenho as minhas respostas, cada um que tenhas as suas, porque eu respeito isso. Somos seres diferentes, tão complexos como questionáveis, prontos a sermos folheados e a encontrar estas e tantas outras respostas por aqui. Quanto a mim, garanto-vos, que nunca encontrei alguém igual. No bom (que ainda acredito que tenha uma parte) e no mau. Mas as minhas diferenças, que sinto em relação a todas as pessoas que conheço que são a tantos e de variados níveis, fazem-me sorrir e dizer...SOU DIFERENTE SIM...muito obrigada.



Thalita Marinho

terça-feira, 17 de outubro de 2006


Suspirando...
Suspiro, dizem, é nome de flor, nome de loja, sobrenome de cavalo, nome de cidade, nome de ponte em Veneza, nome de brinquedo, de marcação musical e de uma pequena abertura que se faz em um recipiente pressionado por algum conteúdo interno que precisa escapar aos poucos, pra não fazer o tal recipiente explodir.
Suspiro também é o nome daquele doce super doce feito com clara de ovo, raspas de limão, açúcar, paciência, um fogo brando e muita sorte ou competência pra acertar o ponto. Todo branquinho! Ele é duro de morder, mas desmancha na boca como mágica. Colocam-no na tartele de morango, no sorvete, no bolo ou na torta de limão, pra acentuar o sabor desses pratos. É tão leve que você poderia jurar que não comeu... Não fosse o gosto forte e melado que fica na boca e gruda na garganta.
Suspiro também é aquilo que o doente faz no hospital um pouco antes de morrer, na última tentativa de respirar mais um pouquinho. Ou o que esse mesmo doente fez tantas vezes antes quando não agüentava mais de dor. Suspiro é o que aquela moça faz quando debruça na janela e fica com o olhar perdido no horizonte, com aqueles olhos de quem não está vendo nada, ou olhando através das coisas. Provavelmente porque ela sente que está quase morrendo de saudade de alguém.
Suspiro é o que a minha mãe - mulher forte, decidida e prática - faz antes de dormir. Desde pequena que ouço ela suspirar à noite, muitas vezes, muito alto, tão alto que chegava a me acordar. Antes me perguntava por que ela suspirava tanto. Hoje eu sei que é de cansaço...e de solidão. Às vezes ela suspira de dia também, quando está fazendo algo que a irrita ou cansa muito; geralmente, os suspiros diurnos da minha mãe são seguidos de um "ai" ou um som bem profundo, que parece que vem do fundo da alma. Mas nenhum é mais profundo do que aqueles que ouço vir do quarto dela quando ela se tranca lá, suspiros que ela deixa escapar e que intensificaram desde a morte do meu avô. Talvez sejam, apenas, suspiros de saudade...como o da moça da janela que deve ter saudade de alguém. Talvez seja só um suspiro triste, de quem acha que não pode mais suspirar de alegria de novo.
Suspiro é o que eu deixo fluir baixinho quando estou de saco muito cheio da meu trabalho, suspiro de raiva e insatisfação. Ou quando me pego entediada, sem muitas esperanças que algo bom venha a acontecer. Também é aquele som que sai de mim quando abraço alguém muito querido, que não vejo ou não abraço faz tempo, e sinto o perfume daquela pessoa causando uma verdadeira descarga de felicidade nas minhas células nervosas, seja essa pessoa um familiar, um amigo ou um querido muito querido mesmo.
Suspiro é aquela expressão de alívio que vem quando você espirra, goza, ou consegue ir ao banheiro quando está com muita vontade de fazer xixi. Tem gente que suspira porque está feliz, porque está triste, porque sente saudade, porque está insatisfeito, porque gosta de contemplar a vida, ou porque quer demonstrar o quanto admira algo muito bonito e hipnotizante como uma lua cheia de verão ou uma flor colorida e delicada.
O suspiro é aquele pedaço que estava bem no fundo, tão fundo, que você precisa respirar forte pra ir pegar lá dentro de você e trazer pra fora, porque senão aquilo começa a te sufocar por dentro. Suspiro é sentimento e sensação transformados em reação biológica. Suspiro é expressão pura e concreta de que algo acontece dentro de você. Quando você suspira, puxa o ar com vontade e depois solta com mais vontade ainda, como se aquele vento entrasse dentro de você pra fazer uma faxina em cada partícula dos seus pulmões, deixando tudo limpo depois. Nem sempre é bom suspirar. Mas é sempre necessário. E não há quem não suspire vez ou outra.
E apesar de existirem muitos tipos de suspiro, de muitos jeitos, para expressar muitas coisas... Eu posso afirmar com a certeza mais absoluta desse mundo que nenhum suspiro é mais gostoso, mais desejado nem mais digno de ser chamado de suspiro do que um suspiro de paixão. Aquele mesmo, que a gente faz quando olha no olho de uma pessoa e aquele olhar parece cair direto dentro do seu. Aquele que a gente deixa sair apressado quando a pele é tocada de leve por aquelas mãos que parecem desejar tanto o seu corpo, ou o que vem depois e lento no meio de um beijo quente, molhado e demorado. Suspiro apaixonado é aquele que vem antes de dormir, quando você tem certeza de que um certo alguém vai aparecer no seu sonho logo mais, ou aquele que chega quando você acorda sorrindo, e já pensa de novo naquela pessoa. Suspiro apaixonado é aquele que você dá depois de atender ansiosa o telefone e vê que é aquela pessoa que você estava esperando, porque é tão bom ouvir aquela voz e ela foi tão desejada nos seus períodos tristes de solidão. Suspiro apaixonado é aquele que vem quando você finalmente descansa nos braços de alguém especial, sentindo uma paz imensa - paz que logo é roubada por outros suspiros, porque não há paixão que rime com paz. Suspiro apaixonado vem na cola daquela música, das mãos dadas, do carinho e das bobagens que achamos tão bonitinha só porque é aquela pessoa que fez, e por aí vai. Quero ver quem me prova que existe suspiro melhor que suspiro de paixão. Existe não! Ai, ai...
Thalita Marinho
P.S.: Em homenagem a todos aqueles que, como eu, andam suspirando muito.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

SOBRE ROMANCES...

Eis o que tenho aprendido sobre romances...


Um romance não precisa ser vistoso, cheiroso e efêmero como um buquê de flores. Nem precisa ser aventureiro, empolgante e rotativo, como um roteiro de viagens semanais. Não precisa ser doce como uma caixa de bombons, nem fofo como um bicho de pelúcia. Não precisa ter atestado de valor e durabilidade, como um colar de ouro. E nem precisa ser invejável e brilhante, como um vestido de noite. Não precisa ser tecnológico, nem inovador, nem mutante, nem forte, nem invejável. Aliás, um romance nem precisa parecer com um romance...se assim for melhor.
Um romance não precisa de atestado de garantia, não precisa de cegueiras, não precisa de misticismos e nem de virtudes especiais. Romance bom tem consciência, pé no chão e escolhas.
Para ter um romance, não é necessário ter dinheiro, beleza ou inteligência acima da média. Não é preciso ter discussões intelectuais, nem racionalizações de nenhum tipo. Não é preciso ter afinidade total, nem arrebatamento total, nem paixão total, nem cumplicidade total. O romance nunca é feito de totalidade, Porque é feito de duas partes que vão se unindo, combinando e descombinando...aos poucos.
As matérias-primas do romance não são sonhos mirabolantes, não são idéias cozinhadas em banho-maria no caldo da ilusão, não são pré-conceitos travestidos em imagens estranhas e impossíveis.
O romance está no meio dos problemas, nos pequenos gestos, nos olhares inesperados, nas palavras e nos silêncios, nas bobagens, no cotidiano, no arroz com feijão de todo dia, no telefonema corriqueiro, no sofá de casa, na certeza do colo no final da tarde, nos ganhos inesperados e nas frustrações, nas concessões e nas obviedades, nas dificuldades e na convivência, no trivial e no especial.
Um romance é feito somente, e tão somente de duas pessoas. Duas pessoas com passado, mas sem amarras. Duas pessoas com paixão, mas sem escravizações. Duas pessoas que se gostam, mas se respeitam. Duas pessoas que se desejam, mas não se esgotam.
O romance está no coração que bate forte...e tranqüilo.
O romance bom, mas bom de verdade mesmo, não rouba a sua vida. Mas a pega emprestada e devolve, todos os dias, transformada...e melhor.

Thalita Marinho

P.S.: Esse texto, fiz para satisfazer um pouco meu coração que de tão intenso não vive sem romance.