quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Eu, eu mesmo e eu também


Todo mundo tem alguns “eus” escondidos. Não é conjectura. É fato e é inevitável, afinal ninguém nesse mundo, nem a mais tradicional das criaturas, é imutável. Às vezes nós mesmos nos surpreendemos com algumas atitudes que tomamos, atitudes que nada correspondem ao que acreditávamos, e nos pegamos dizendo ou fazendo coisas que definitivamente não condizem com o que costumávamos defender. Muita coisa muda com o passar dos anos. E lembremos que a prática e a teoria nunca se entenderam lá muito bem.

Um exemplo clássico é o pai carrasco, que trata de aterrorizar a filha para o caso de ela aparecer grávida. "Vai ser expulsa de casa!" No entanto, basta despontar a barriga, que o tal ditador se rende aos chutes do neném e transforma-se no maior baba-ovo do mundo. Lembremos mais uma coisa: SÓ NOS CONHECEMOS MESMO À BEIRA DO PRECIPÍCIO. Até porque, metade das coisas que afirmamos que faríamos, nunca são feitas. Falta-nos um pouco, ou muita, coragem.

Mas voltemos aos eus... Bem, não nascemos com todos ‘eles’, sem contar que começamos a gostar das coisas por convívio. Temos os mesmo hábitos que nossos pais. O que eles ouvem, lêem e pensam nos influencia. Mas aí, chega o dia em que vamos para a escola e lá conhecemos outro mundo que, evidentemente, é diferente da nossa casa, e então, entramos em conflito. É partir daí que eles começam a aparecer, os eus! Por algum motivo qualquer, começamos a tentar separar o joio do trigo e decidir o que mais nos agrada. Alguns fazem isso sozinhos, outros com a ajuda dos pais, influenciados pelos amigos e ainda há os outros, que acabam decidindo não ouvir ninguém. Quando crescemos mais um pouco e vamos pra faculdade, começamos a trabalhar, aprendemos mais coisas novas, quebramos a cara, conhecemos pessoas, a vida muda e consequentemente quando vemos, olha lá, mudamos de novo. E é assim que formamos a tão famigerada e, às vezes, perturbadora personalidade. Mas você não gostava de ficar em casa vendo TV no domingo? Ah, enjoei, prefiro ir a um barzinho com os amigos. E daqui a alguns anos, invariavelmente, recomeça o ciclo: Mas você não gostava de ir ao maracatu toda sexta? Cansei, agora prefiro samba ou ficar em casa jogada na frente do computador.

Mas qual o conflito? Afinal estamos no mundo justamente para isso. Para nascer, ver, crescer, mudar, viver e aprender. Por isso não recrimine aqueles que antes eram hippies e por algum motivo, viraram playboys, ou os que eram loiros e ficaram morenos, ou ainda, ex-bobos que se tornaram punks. Todo mundo tem direito de mudar! Diria mais. Todo mundo tem o direito e dever de mudar! Nossas mudanças podem nos ensinar muito, nossas experiências também servem para nos reciclarmos. E pensem bem, o mundo seria um saco se não fosse assim. Gostamos hoje de feijoada e amanhã não mais. Ouvimos pagode durante anos até definirmos nosso gosto e descobrir que gostamos mesmo é de salsa, ou não, amamos rock, samba... está mais do que claro. Se já fazemos isso com nossos gostos, enjoamos e trocamos como quem troca de roupa, imagine então, com o resto?

Isso é o ser humano, o que há de mais belo nele e não em qualquer animal: a possibilidade de mudar, de se transformar, de evoluir e compilar sua personalidade. Eu, eu mesma e eu também somos muitos diferentes. Uma contradição quase impossível de existir. Chorona, sorridente, tímida, ousada, atrevida, controlada, ciumenta, desencanada, bem humorada, insuportavelmente irritada. Soa estranho, mas essa sou eu e não tenho dupla personalidade, mil facetas, "não mudo minha postura só para agradar", mas sou, assim como todo mundo, uma mistura de sentimentos que se confundem, se chocam e acabam nos tornando aquilo que seremos para o resto da vida, todos um só, iguais e diferentes: incríveis seres humanos.


Srta. 'em constante mudança' Marinho

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