Conversa com Toinho

Hoje é dia de Santo Antônio! Dia em que muita gente vai pegar o coitado do Santo e colocar de cabeça pra baixo num copo d’água ou roubar-lhe o menino Jesus dos braços até ‘ele’ lhe trazer um(a) amado(a). Confesso que sinto um pouco de pena do Santo por conta disso. Maldade demais! Apesar de nunca ter feito esse tipo de simpatia, acho divertida essa cultura, principalmente aqui no Nordeste, quando chega o período de festas juninas e as mais diversas crendices e simpatias se espalham.

Confesso que nunca tive grandes problemas em ficar solteira, alguns dramas é verdade, mas sempre levei na boa os momentos em que estive sem namorar. O mais engraçado é que algumas pessoas me pegaram como alguém que é bem sucedida nos relacionamentos e desencanada com os raros momentos de solteirice. Daí, vez ou outra alguns amigos resolvem me confessar seus perrengues amorosos e vêm até mim para aconselhar-se, desabafar, pedir um pouco de colo. Embora eu tenha certeza que não sou a melhor das conselheiras. Enfim... O fato é que não acredito que namoro é algo que se planeje, simplesmente acontece. E também acredito que quando alguém grita aos quatro ventos que está afim de namorar, sem estar interessado ou apaixonado por alguém, mas pelo simples fato de namorar… CORRA POR QUE É CILADA!

Diante de tudo isso, queria aproveitar a data e fazer um pedido a Santo Antônio, Toinho para os íntimos. Quero pedir que Ele ilumine as pessoas para que elas saibam reconhecer a diferença, a pequena diferença entre querer namorar e estar pronto pra namorar. E percebendo essa sutil diferença, sejam mais felizes nos próximos relacionamentos. O Santo deve saber melhor do que eu que um monte de gente começou a namorar apenas para suprir carências próprias, para buscar a felicidade na sua forma mais egoísta, quando seria muito mais interessante se soubessem e aprendessem a ser felizes e bem resolvidos, primeiramente sozinhos antes de buscar alguém para dividir as tristezas e alegrias.

O pior é quem aluga os amigos, ou se expõe em redes sociais, pra ficar reclamando do namorado(a). Se não está bom, se a pessoa tem tantos defeitos assim que você não consegue ignorar, o que ainda está fazendo com ela? Porque sempre que alguém chega perto de mim agindo dessa maneira ou quando alguma pessoa diz que fulano está se anulando em função do namoro, eu faço questão de lembrá-los que talvez fulano esteja agindo assim porque quer. Ninguém obriga uma pessoa a estar ou mesmo permanecer numa relação que não está legal. Constatou que está ruim? Senta e conversa. Não conseguem chegar a um acordo? O modo mais prático, e ainda mais eficaz, de dar um basta no sofrimento a dois é dar fim a relação. Tudo bem, sei que é muito fácil falar, porém difícil executar. Principalmente quando nos acomodamos. Mas acredito que é muito mais difícil manter em nossas vidas algo que está fadado ao insucesso, algo que não é bom para você, que não está fazendo bem a você e nem ao outro. Ainda tem aqueles casos das pessoas que comentam que estão numa relação baseados em interesse. Friamente eu diria até que é válido. Relacionamentos são eternas trocas de interesses, e não me importa nem um pouco qual é o tipo de interesse que você estabeleceu em seu relacionamento. Desde que se sinta bem e feliz! Pouco importa se é por conta do sexo que é muito bom, se é por conta da situação financeira de uma das partes, se é o conforto que um provém ao outro. Não importa mesmo! Se duas pessoas, maiores de idade, estão de acordo em estarem numa relação estável, chamada de namoro, o problema é deles. Se algo na relação dos outros te incomoda, o mais sensato a se fazer é chamá-los para conversar, mas não ficar metendo o bedelho no namoro alheio pelas costas. Aliás, fique quieto, até por que você não tem nada a ver com isso. Desculpa, mas de vez em quando é preciso servir umas xícaras de chá de semancol às pessoas.

Queria pedir outra coisa a Toinho, acho que não é pecado chamar o Santo pelo nome, não é mesmo? Então... Quero pedir um pouco mais de tolerância. Gostaria que os meus amigos e amigas homossexuais pudessem ter a liberdade que eu tenho de beijar meu namorado na rua, no bar, na calçada sempre que tenho vontade. E que eles possam andar seguros por aí, sem que meia dúzia de hipócritas e falsos moralistas os condenem ou agridam. Na verdade acho que o pedido tem que ser mais amplo, então Santinho, por favor, interceda para que o mundo respeite o próximo. Certamente isso trará mais benefícios do que fazer ‘fulaninha’ arranjar um marido rico, não é? Se bem que, estando de cabeça para baixo, dentro de um copo vagabundo, cheio d’água, atrás da porta, é bem capaz do senhor ceder à chantagem do que atender meu pedido. Infelizmente! Mas não custa deixar a prece.

E para mim? Bom, eu queria lher pedir que siga abençoando meu namoro. Que, apesar da distância que lutamos todos os dias para superar, está tão bom e cada vez mais intenso. Ele não poderia ter me chegado em melhor hora, justo quando eu estava muito bem resolvida. Sinto-me feliz no relacionamento que estamos criando, muito longe da perfeição, mas uma troca gostosa e respeito mútuo. E não se preocupe, não vou colocar o senhor de cabeça para baixo, mas espero que siga abençoando e permitindo que as coisas sigam acontecendo no tempo certo.

Ah, Santo! Quero fazer um último pedido, se me permitir. Pode parecer que esse seja o mais difícil, mas não custa tentar. Gostaria de continuar com a cabeça fresca, a mente aberta, o coração em festa. Cada vez mais apaixonante e apaixonada. Não só pelo meu namorado, que me ensina sobre amar e ser amada todos os dias. Mas pelas pessoas, pelas relações humanas, pela fé em tudo e as vezes nada que nos move, também pelas ideias, livros, viagens, filmes, músicas, animais... Pela vida! Que minha vida siga com esse amor que tenho às causas, para que eu, quem sabe, possa ajudar o senhor nessa tarefa gigantesca que é fazer as pessoas se amarem e respeitarem mais. E, como diria meu querido e amado amigo Reinaldo Alves, que as pessoas entendam de uma vez por todas que, NÃO HÁ MANDINGA QUE TRAGA O AMOR PRA GENTE DESESPERADA Quem atrai namorado é 'safdeza', não santidade.

Amém.

Srta. Marinho

P.S.: Não sou nenhuma religiosa fervorosa, nem autoridade em relacionamentos como pensam, e às vezes até duvido da santidade dos santos. Sou apenas alguém que namora e já namorou um pouquinho nessa vida. Curiosa, já li muito sobre relacionamentos e por ser ‘metida’, ás vezes lanço ao vento umas ideias sobre o assunto. Daí as pessoas resolvem levar a sério ou achar que estou brincando.