segunda-feira, 5 de maio de 2008

Marcha meu povo, marcha!




O Brasil é o país das marchas. É isso mesmo, marchas! Aquele amontoado de gente reunido em largas ruas, avenidas, praças, praias, estradas do país, marchando em prol de alguma causa social, ou não, com direito a megafone, faixas, apitos, bandeiras... e todo um aparato que possa chamar atenção da mídia e da opinião pública. Até aí nada contra. Não serei eu, ex-dirigente de movimento estudantil, que vou condenar tal manifestação. Participei de várias, embora a tempos atrás as chamávamos de passeatas simplesmente. Também não posso deixar de mencionar grandes passeatas, quer dizer marchas, que mobilizaram nosso país em outras épocas. Só para refrescar a memória temos as mobilizações de DIRETAS JÁ!, do IMPEACHMENT DE COLLOR... de RECEPÇÃO DOS ‘HERÓIS’ DO TETRA (O que foi? Mais de 1 milhão de pessoas nas ruas com bandeiras, apitos e trios elétricos não pode ser caracterizado como ‘marcha’?). Mas voltando ao texto.
Não quero condenar essas marchas atuais, algumas merecem muito do meu respeito e apoio. Mas condeno a banalização que esses movimentos ganharam hoje no mundo, e no Brasil em especial. Se avaliarmos de forma bem crítica, perceberemos que o Brasil é o país dos feriados (prolongados), do futebol, do carnaval...e das marchas. O brasileiro deve passar mais tempo marchando do que tomando banho, trabalhando, beijando...ou sei lá, fazendo algo de concreto e útil pelo próximo. Está comprovado que essas marchas, atualmente, pouco surtem efeito. No fim, só estão servindo pra juntar gente na rua querendo aparecer nos noticiários, deslocar um contingente efetivo e absurdo de policiais que poderiam e deveriam estar fazendo ronda nos bairros, importunando bairros residenciais com os altos decibéis gerados pelos trios elétricos aos berros de manjadas palavras de ordem. Fora os que se aproveitam do aglomerado para realizar pequenos delitos que vão de furtos a danificação de patrimônio público e privado, e mais um tanto de coisas que eu poderia passar horas citando. Sem contar com as inúmeras pessoas que se metem numa marcha sem nem saber o que faz ou porque estão ali no meio da multidão.
Vamos exemplificar o que estou falando, de forma mais objetiva, pontuando algumas das marchas existentes. Temos a MARCHA DOS EXCUÍDOS, DO ORGULHO GAY, MARCHA PARA JESUS, DA CONSCIÊNCIA NEGRA, MARCHA PELA PAZ, MARCHA A FAVOR DA FAMÍLIA, DOS SEM-TETO, MARCHA PELO DIREITO A TERRA, CONTRA A VIOLÊNCIA À MULHER, CONTRA A VIOLÊNCIA, CONTRA O AQUECIMENTO GLOBAL, PELA REDUÇÃO DE PASSAGENS, MARCHA PELA REFORMA SALARIAL, PELA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL, CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL, MARCHA CONTRA O DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA, EM DEFESA DAS TARTARUGAS MARINHA... Ufa! Faltam umas trezentas marchas nesta relação. Sou consciente, ainda, de que a ‘Terra de Vera Cruz’ é o país de certos absurdos, mas nenhum como o que ouvi nos principais telejornais nacional em 02 de maio corrente. A notícia que colocou as marchas no alvo da minha revolta com o segmento, é que ganhamos mais duas marchas, já existentes na verdade, mas sem tanta divulgação.
Agora podemos nos ‘orgulhar’ por que temos a MARCHA PELA LIBERAÇÃO DO USO DA MACONHA e de brinde, claro, a MARCHA CONTRA A LIBERAÇÃO DO USO DA MACONHA. É absurdo demais!
Não uso, nunca usei, não tenho a menor vontade de usar maconha, mas também não condeno quem faz uso ou não da erva. Sinceramente, não é minha saúde física e mental que vai ser abalada. Sem contar que, deixando a hipocrisia e falso moralismo de lado, é mesmo necessário fazer uma marcha pedindo a liberação da maconha, quando na verdade quem faz uso nunca deixou de fumar sendo proibido ou não? Todos nós sabemos que existem leis que proíbem e penalizam pelo cultivo, consumo, tráfico, venda, etc. Mas também sabemos que nem por isso ela deixa de estar no seio da sociedade, basta chegar nas plantações nem tão clandestinas de abastados fazendeiros, nos pátios de grandes universidades (públicas e privadas), em festas privadas de colunáveis ou mesmo em gabinetes de nobres deputados.
A maconha está aí com fácil acesso e disfarçada aceitação, não precisa de uma meia dúzia, na verdade bem mais, de usuários declarados com bandeiras, cartazes e megafones pelas ruas defendendo a liberação do seu consumo. Sendo assim, vamos às ruas defender também que crianças peguem em armas nessa guerra urbana que vivenciamos, que filhos matem pais, pais matem filhos, que crianças sejam privadas do direito à educação... Tantos absurdos temos para defender se olharmos desse ângulo.
Pra completar, os organizadores da marcha dos chapados nos Estados onde a justiça proibiu o movimento, resolveram se juntar a MARCHA PELA DEMOCRACIA (é, existe essa também!) para poder levarem sua manifestação adiante. Acredito que não precisamos, e não devemos, fingir que a maconha não existe e não é consumida nas mais diversas classes sociais brasileira, mas ir ás ruas pela liberação do uso já é um pouco demais.



Thalita Marinho

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