quarta-feira, 5 de março de 2008

Vícios da Alma (15)



EXPECTATIVA. [Do lat. exspectatu, ‘esperado’, + -iva.] S.f. Esperança fundada em supostos direitos, probabilidades ou promessas: Vive na expectativa da herança; Perdeu a eleição, contra todas as expectativas. [Var.: expetativa; sin.: expectação.] ... Dicionário Aurélio.
Coisa fantástica, a EXPECTATIVA! Acreditamos em qualquer coisa, e durante o tempo em que acreditamos tudo à nossa volta parece mais positivo. As flores parecem ter um brilho renovado, o Sol encandeia-nos a tendência para o desespero, cala-se o grito mudo da revolta, sossega a nossa impaciência. Aprendemos a esperar, e com a tenacidade de antes, aquela tenacidade de quando nos insurgíamos contra tudo e contra todos, ousamos crer, esperar, confiar. Sentimos, lá no fundo, que há o risco de as nossas expectativas saírem defraudadas. Que há o perigo, sempre inerente, de não ser justificada a confiança que depositamos em pessoas desconhecidas, ou em meros conhecidos de circunstância. Algumas palavras trocadas, alguns meses perdidos numa esperança tênue e difusa de que a vida finalmente mudará. Mas não muda! Não assim, desse modo quase fácil, ainda que exigente e cansativo. Apesar da entrega, da dedicação, da esperança e do tanto que aprendemos enquanto dura a experiência. A confiança é um exercício difícil, e a esperança assume-se de modo cada vez mais claro como uma miragem. Aprendemos a esperar. Conformamo-nos com o tempo de espera. Perdemos a revolta, que dá lugar ao apagado sentimento do “não vale a pena” ou do “nunca sairei disto”. Quando a expectativa se vai, e se vê frustrada a vontade de prosseguir, eis a morte do projeto. Morre a sombra do sucesso que durante meses viveu pousada nos nossos ombros. A expectativa dá lugar a uma renovada sensação de derrota. Valeu a pena o tempo perdido? Terá valido a pena as noites quase em claro, as manhãs em busca de um futuro risonho, que teima em fugir de nós? Aprendemos com a experiência? Não sei. Hoje apenas sei que isto era o que mais temia, e que no entanto enfrentei com a garra de quem se prende ao desejo de mudar, de caminhar, de construir um futuro. A expectativa, outrora feliz, jaz aos meus pés, moribunda. Talvez pense em levantar-me, em tentar de novo. Talvez insista no acreditar tantas vezes desperdiçado. Talvez fique aqui, talvez ande por aí. Morta a expectativa, tão cruel a surpresa, resta-me reaprender a caminhar…
Thalita Marinho

Um comentário:

Anônimo disse...

Expectativa, ficção...

Não existe muita diferença entre as duas.

Alimentar uma ficção é criar expectativas.

E podemos alimentar uma ficção ruim e desagradável ou uma boa e paradisíaca... e tudo cai por terra quando vemos a realidade.

É aquela coisa, nossa mente é uma ferramenta poderosa pra criar ficções. A ferramente em si não é ruim, mas como fazemos uso dela...