quarta-feira, 20 de junho de 2007

Conflitos entre a vontade e os impulsos

Como resultado da decisão, os impulsos também podem ser inibidos. Tal acontecimento é comum quando eles são passageiros e a sua força pequena. Mas nem sempre esta inibição é eficaz, fenômeno este que os psicanalistas conhecem e descrevem bem.
Daqui podem nascer novos sentimentos que de outro modo se realizem. E pode ainda acontecer do impulso, ora deliberadamente inibido, ora realizado, aumente neste processo e se transforme em paixão: a paixão amorosa, a paixão do jogo, a paixão da aventura.
Nos casos de paixão, o impulso é aceito pela consciência de si. Mas se existir uma luta cerrada e dolorosa, de tal modo que o impulso só se realize quando escapa à vontade, ele não deixará também de crescer, mas será vivenciado como algo de estranho à personalidade. Esta luta ocorre em todos os fenômenos compulsivos que podem ser um componente dos vícios, e levam quase sempre ao enfraquecimento da vontade.
As obsessões e compulsões neuróticas têm a mesma gênese. Nestes casos, a vontade faz recurso a comportamentos laterais para esconjurar os impulsos indesejáveis: outros pensamentos, imagens, símbolos, rituais. Estes, por sua vez, tornam-se tão absurdos e indesejáveis que acabam por ser combatidos. Assim, o obsessivo fica preso num círculo vicioso: inibe as obsessões através de rituais e novas obsessões que, por sua vez, inibe através de outras, numa desgastante luta que se auto-agrava sem fim.
A luta entre impulsos e vontade pode-se organizar de múltiplas formas, gerando sentimentos complexos e deformando a manifestação de impulsos instintivos. Outro caso particular é a fobia de impulsão, em que o indivíduo se sente impelido a um ato condenável (como atirar-se da janela, esfaquear ou assassinar alguém), e luta ansiosamente contra essa tendência, luta essa que mais faz crescer o impulso. Impulsivamente, hoje tentei, sem sucesso, matar você dentro de mim! Conflitos e mais conflitos...

Thalita Marinho


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